Acerca de Neandertais e da hibernação

Neandertal

Crónicas Avulsas

Henrique Bonança

A ideia de induzir artificialmente a hibernação em massa da população planetária não é nova: fui confrontado com ela muitos anos atrás; a narrativa associada afirmava que seria essa a melhor forma de recuperar o nosso planeta e os seus seres vivos que não tivessem sido já extintos após uma qualquer catástrofe natural arrasadora ou da acção nefasta do próprio homem, bélica ou de outra índole.

Outra alternativa apresentada para resolver o grave problema passava por alguns de nós, os sortudos contemplados no exigente processo de escolha em função da utilidade das suas competências, como contribuição para salvar a nossa espécie, qual passageiros da Arca de Noé, embarcarem em naves espaciais rumo ao espaço sideral e irmos estragar outro ou outros planetas nalguma galáxia distante.

O meu primeiro contacto com ideias desse tipo foi muito precoce, enquanto adolescente sedento consumidor dos livros de bolso da fabulosa colecção Argonauta onde, algumas vezes sob pseudónimo, alguns cientistas narravam de forma romanceada e aventureira as suas teorias e a sua visão sobre o futuro da humanidade.

Recordo autores como Isaak Asimov, Artur Clark, Robert Heilein, Philip Dick ou Ray Bradbury que fertilizaram e alimentaram durante anos a minha imaginação e os meus sonhos de rapaz. Na época, apesar dessas narrativas parecerem mirabolantes, a verdade é que com várias dezenas de anos de adianto, elas antecipavam a realidade que agora conhecemos, falando-nos de máquinas e utensílios com soluções tecnológicas corriqueiras e vulgares com uso universal nos dias de hoje.

Nesses tempos já muito remotos, lia sôfrega e verdadeiramente empolgado estórias imaginárias vividas por personagens que se teletransportavam da nave almirante da esquadra para a superfície de um qualquer planeta onde viviam extraordinárias e arriscadas aventuras e se confrontavam perigosamente com criaturas bizarras.

As viagens interestelares, com destinos noutros planetas a muitos anos-luz noutras galáxias, eram postas em prática usando enormes naves que atingiam velocidades impensáveis, com toda a certeza acima da velocidade da luz, capazes de com elas serem calcorreadas distâncias inimagináveis: só possíveis de percorrer em tempo de vida útil dos seus heróicos tripulantes, por estes serem mantidos em estado de hibernação durante a maior parte de um caminho que rasgava o incomensurável e frio vácuo intergaláctico.

Os modernos filmes e séries televisivas de aventuras de ficção científica vulgarizaram estes conceitos; exemplo disso são as comunicações com a sua base operacional ou entre protagonistas em que são usados hologramas, pelo que não nos são estranhos. Qualquer adolescente ou adulto de hoje em dia, estejam eles onde estiverem, utiliza na sua vida diária um computador portátil ou um telemóvel com que a toda a hora, graças aos satélites geoestacionários colocados a cerca de trinta e seis mil metros de altitude tal como preconizou Artur Clark na sua obra literária, consegue contactar os seus amigos ou colegas de trabalho, enviando-lhes imagens e textos, assim como ter acesso à informação contida em muitos dos livros de muitas bibliotecas.

Recupero estas recordações por no “Facebook” instalado no meu telemóvel me ter deparado com um artigo que relata a descoberta no interior de uma gruta em Espanha de ossadas de Neandertais. O texto diz-nos que o estudo efectuado revela interrupções no normal crescimento dos ossos e sugere que esses hominídeos ancestrais hibernavam. O seu metabolismo estaria naturalmente preparado para isso.

Faziam-no como estratégia de sobrevivência ao frio e à escassez de alimentos durante a época gelada, vivendo das suas reservas corporais de gordura como os ursos ou outros animais fazem ou, ainda, talvez num estado de torpor que lhes permitia poupar energia tão necessária. Não faço a mínima ideia da veracidade daquilo que é afirmado, até porque toquei desajeitadamente no écran táctil do telefone e perdi o que estava a ler, sem ter tempo para saber quem era o autor, nem sequer o responsável pela publicação.

Caso haja algum fundo de verdade naquilo que é aí dito, assim como tenha havido de facto cruzamento entre essa espécie hominídea e os “homo-sapiens” também com partilha dessa característica genética, talvez tenhamos adquirido natural capacidade para viajar de estrela em estrela e de galáxia em galáxia, a bordo de naves espaciais, em hibernação, até ao destino final.Talvez, quem sabe, para a espécie humana, poderá não ser só uma desesperada e heróica expedição de exploração em busca de uma alternativa de vida viável num planeta de uma estrela longínqua mas, milhares de gerações depois de hipotética chegada ao nosso, dotados dessa capacidade facilitadora para cumprir longos e duros caminhos, uma viagem de regresso às origens!

Henrique BonançaVRSA – 27 de Dezembro de 2020

PS – Bom Ano Novo para todos sem qualquer excepção, com muita saúde!

Sobre o autor

jestevaocruz

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