Foi hoje a sepultar Alfredo Graça

Alfredo Graça

Saíu cerca das 14 horas de 15 de Dezembro corrente, para o crematório de Faro/Loulé aquele que foi o presidente da câmara municipal de Vila Real de Santo António, desde nos anos de 1980 a 1986, eleito pelo PCP nas listas da coligação APU.

Alfredo Graça de 83 anos, nasceu em 6 de Agosto de 1938 em Vila Real de Santo António e a câmara municipal, presidida pelo socialista Álvaro Araújo, prestou-lhe homenagem com a declaração de luto por dois dias e bandeira municipal a meia haste, tendo-se deslocado à casa mortuária para apresentar as condolências à viúva e filhas. Muitos amigos, camaradas e população passaram pela casa mortuária de Vila Real de Santo António, antes do féretro sair da cidade rumo a Faro.

Quem era Alfredo Graça

Alfredo Graça tomou posse na Câmara Municipal de Vila Real de Santo António em Janeiro de 1980, na sequências das segundas eleições autárquicas de 1979, eleito pela coligação APU, entre o Partido Comunista Português de quem foi militante até ao fim da vida e o MDP/CDE.

Foram anos intensos de dedicação ao trabalho, realizado nos seis anos em que desempenhou o seu mandato autárquico, aplicando um pensamento de vanguarda numa época em que estava tudo por fazer, pois as autarquias locais não tinham praticamente autonomia política e financeira nos regimes de Salazar e Caetano.

Cedo se apercebeu que, manietado por dezenas de organismos que tinham competências sobre o desenvolvimento, só com a elaboração de um Plano Diretor Municipal, o oitavo a ser levado à prática em Portugal, Vila Real de Santo António, conseguiria conter alguns atos de selvajaria urbanística que se verificaram noutros pontos do Algarve, em especial nas zonas turísticas. T

Tal enquadramento permite que hoje, as casas se implantem em urbanizações, valorizando não só a qualidade dos edifícios como também do urbanismo, com os construtores civis a poderem obter rendimentos mais elevados e a trabalharem em melhores condições.

A obra de Alfredo Graça como presidente de câmara foi mal compreendida pelos seus adversários políticos, em especial quando tomou medidas preventivas para defesa do planeamento urbanístico. Foi acusado de bloquear o progresso e o desenvolvimento. Os objetivos dos que o acusavam não eram o futuro de Vila Real de Santo António, No entanto, nos dias de hoje, há diversos organismos que tomam regularmente esse tipo de medidas, como no caso dos planos de ordenamento da orla costeira, planos de pormenor e de urbanização que eram o que a acção das forças políticas que o apoiavam preconizava.

Lembro as suas palavras ao retirar-se para a área de gestão de produção «Estou satisfeito, porque a maioria da população progressista de Vila Real de Santo António compreendeu a estratégia positiva da minha gestão, tanto mais que subi de votação das primeiras para as segundas eleições, onde ganhamos a maioria absoluta dos votos e mandatos e das segundas para as terceiras, que ganhei subindo, mas fui afastado da Câmara por um critério de apreciação de uma dúzia de votos que hoje seriam perfeitamente válidos“.

Alfredo Graça desempenhou o seu mandato em condições muito difíceis. Tinha acabado de ser aprovada uma lei de finanças locais e as autarquias ainda não tinham meios financeiros suficientes para as grandes carências das populações, designadamente no abastecimento de água, na construção de redes de esgotos e na construção de estradas e caminhos. Estava tudo por fazer. Até sobreveio uma das piores secas logo em Janeiro do ano seguinte, em 1981, em que o Algarve foi declarado em situação de pré-catástrofe. Por outro lado, Portugal estava numa situação económica muito difícil e os sucessivos governos não só não mandavam o dinheiro que se tinham comprometido com o novo Poder Local como obrigavam a fazer obras que eram da sua exclusiva competência, num quadro em que a inflação subia todos os meses.

Mesmo assim data dos seus mandatos a resolução de muitos problemas dos bairros degradados, do apoio à famílias pobres, da mudança do mercado municipal para uma área estratégica de desenvolvimento, da criação do complexo desportivo, da definição das grandes linhas do PDM, incluindo a marina e o golfe, a melhoria do relacionamento com a Espanha, através da geminação com Ayamonte e com a Marinha Grande, outra grande terra operária ligada à visão industrial do Marquês de Pombal.

Defendeu as operárias conserveiras contra o encerramento das fábricas de conservas e melhoraram-se os níveis de vida da população, com a concretização de medidas de auxilio, entre os quais a construção de depósitos de água e a concretização da “Operação Sertão” que permitiu que uma parte importante de Monte Gordo não se tenha tornado um desses bairros degradados na periferia das zonas turísticas. Com Alfredo Graça tiveram pelouros os vereadores de outras forças políticas, que deram um importante contributo para o desenvolvimento da democracia no concelho.

Alfredo Graça contribuiu também para o êxito da piscicultura da Eurodáqua, instalada na Reserva do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António que ajudou a crescer como encarregado, depois de cumprir os seus dois mandatos. No seu funeral compareceu também um representante e trabalhadores da Tunipex, empresa japonesa instalada em Olhão com armadilhas para a captura do atum, para quem Alfredo Graça trabalhou como encarregado, tendo mesmo sido convidado a visitar a sede da empresa no Japão, onde foi agraciado pela empresa.

Alfredo Zarcos Graça à data da primeira presidência, eleito em 1979

Sobre o autor

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